segunda-feira, 18 de outubro de 2010

16 de outubro: Se vivo, Cortez Pereira completaria 86 anos

CORTEZ, O MAIOR

DO BLOG DO ALDO:
 
Memória viva de... Esse é o título do livro editado pelo jornalista Carlos Lyra, no qual transcreve várias entrevistas concedidas por grandes nomes da história potiguar.  Dentre esses, Cortez Pereira, em entrevista concedida em 1982.

Tive o prazer de lê-lo há algum tempo e, antes de escrever algo sobre o aniversário de nascimento de Cortez, reli-o para relembrar algumas passagens interessantes relatadas no livro, as quais sito abaixo em tópicos, nas palavras do próprio Cortez:

A INFÂNCIA
- Nasci em uma cidade do interior do RN, Currais Novos.  Cidade bonita, limpa, ruas largas, povo alegre - uma cidade de bem com a vida!  Carreguei quando criança - e diziam isso lá em casa - uma tristeza, um desconsolo, talvez a ausência da mãe que perdi, criança.  A minha lembrança de menino foi "ferrada" mais profundamente por dois fatos: a Revolução de 30 - eu tinha seis anos - com a sua indesejada vitória, por representar a "cassação" do meu pai, deputado perepista.

O IRMÃO
- Ser como eu era se tornava muito mais, pela diferença do meu outro irmão, Armando.  Este estava em todas, participava de tudo e dirigindo, liderando.  Armando era inteligente, bonitão, jogava futebol e derrubava gado, falava bonito e naromava muito... papai dizia que ele ia ser governador.  Teria sido, talvez, se não morresse com 16 ou 17 anos.  Havia uma comparação frequente lá em casa, e a diferença entre mim e ele era tão grande que não tinha despeito contra ele, mas procurava imitá-lo; se ele era mais inteligente, eu procurava ser mais estudioso; se não podia competir com ele junto às moças, também não tentava porque meu desejo era o convento.

O PAI
- A presença do meu pai era forte, tanto pela religiosidade que ele tornava mais forte pela comunhão diária e pelas leituras, quanto pelo caráter e pela própria cultura.  Lia muito sobre Religião, Economia e até Filosofia.  Ele procurava sempre compreender as suas convicções, procurava caminhar da fé para a razão.

O CONVENTO
- Ah, não queira saber!... a tristeza, a saudade de casa.  Imagine quem já era triste dentro de um convento.  Foi angustiante o choque que me causou o silêncio do claustro, as sombras úmidas de árvores seculares, os corredores sem fim, os velhos frades arrastando imaginários pecados...

O FILÓSOFO/CRISTÃO
- O caminhar em direção a São Tomás (de Aquino) é o caminhar para o mundo, para a natureza, para fora de nós, para o universo onde, no seu pensamento, encontraremos sempre Deus.

AS FORMATURAS
- Fiz meus dois cursos superiores em Recife:  Direito, na velha tradicional, como era chamada a Faculdade Federal e, Filosofia, na Universidade Católica dirigida por jesuítas.  Cursei as duas Faculdades ao mesmo tmepo, terminando Filosofia em 1949 e Direito em 1952.

A POLÍTICA
- A política foi uma contingência da tradição familiar.  Papai tinha uma devoção quase religiosa pela política.  Foi deputado em 1930, por poucos dias que antecederam a vitória da Revolução.  Minha irmã, Maria do Cé, foi a primeira mulher, no Brasil, eleita deputado:  é a viúva de Aristófanes Fernandes, que morreu como deputado federal, e mãe de Paulo de Tarso, líder da oposição na Assembleia Legislativa (À época).  Houve um tempo em que, da família, éramos quatro ou cinco deputados.

O NORDESTE
- O que falta não é dinheiro, são idéias.  Fala-se em terra seca do Nordeste, mentira.  Seca, seca mesmo é a inteligência dos que governam o Nordeste.

A CASSAÇÃO
- Fui, em verdade, durante longos anos, prisioneiro de um silêncio amargurado.  A um jornalista que insistia em inerromper-me, eu apenas declarei: "O futuro dirá o que direi no futuro."

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