quarta-feira, 11 de novembro de 2015


De acordo com dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a violência sexual é a quarta violação recorrente contra crianças e adolescentes no Brasil. Esse número foi feito com base no Disque 100, um serviço mantido pelo órgão governamental que registra e encaminha as denúncias.
Só nos três primeiros meses deste ano, 4.480 casos de violência sexual foram registrados.
O abuso infantil ocorre quando o agressor, por meio da força física, ameaça ou seduz, usa crianças ou adolescentes para a própria satisfação sexual.
Fora a exploração sexual de crianças e adolescentes com o objetivo de obter lucros, as denúncias também envolvem casos de pornografia infantil, grooming (assédio sexual na Internet), sexting (troca de fotos e vídeos de nudez, eróticas ou pornográficas), exploração sexual no turismo, entre outros.
Nos últimos anos, casos de exploração sexual de crianças e adolescentes têm sido amplamente divulgados na mídia, o que mostra que esses casos vêm se tornando frequentes. Para a psicóloga Tatiana Assunção, não é que tenham aumentado os casos, mas a divulgação aumentou, o que favorece para a tomada de ação por parte de pais e poder público. “Não é que o assédio infantil tenha aumentado agora. É que com a internet, isso ficou mais fácil. A internet contribui, facilita para que pessoas mal intencionadas encontrem as crianças, facilita para ela entrar em contato com as crianças e facilita também para que as pessoas que façam isso encontrem alternativas para ter contato com elas, usando um perfil diferente ou outra forma. A internet pode estimular quem já tem predisposição para cometer abuso”, disse.
O uso da internet por parte de adolescentes e até mesmo de crianças tem contribuído para uma maior exposição infantil. Assim crianças e adolescentes ficam vulneráveis a investidas de pessoas que buscam prazer na população infanto-juvenil.
De acordo com a psicóloga, o abuso infantil traz graves consequências para a vida da criança. Ela ressalta que antigamente isso também acontecia, mas todos se calavam, achando que não era crime. E a culpa acabava caindo para a criança.

Pais têm mais abertura para falar sobre tabus
Antigamente, os pais não tinham coragem de falar abertamente com os filhos sobre assuntos os quais consideravam “imorais”. Era um tabu. Com isso, as crianças cresciam, muitas vezes, sem orientação com relação ao corpo, à sexualidade e como se comportar diante de certas situações. Segundo Tatiana Assunção, hoje isso mudou, os pais já conseguem conversar mais com os filhos sobre sexualidade, orientando-os com relação ao seu comportamento. “Hoje os pais estão mais abertos com relação à sexualidade. Antes havia um tabu. Os pais têm que mostrar mesmo às crianças, orientá-las: ‘olhe, esse corpinho é seu, esse peito é seu. Se alguém tocar você tem que falar, tem que dizer à mamãe. Tenha cuidado, não deixe ninguém pegar, tocar, mostrar, que é íntimo e que não se pode tocar'”, ressalta a psicóloga, que reforça importância da presença dos pais na vida dos filhos.
Ela afirma que é preciso que os pais acabem o medo de conversar com os filhos. “A proximidade dos pais é importante. Uma conversa é muito importante. Os pais têm que parar de ter medo de falar sobre isso. Claro que com a criança pequena você não vai entrar em detalhes. Você vai falar na linguagem dela. Com o adolescente de 10, 11 anos, você pode avançar mais, porque eles já têm noção, veem isso na escola”, diz.

Escolas podem contribuir para combater os casos de abuso
Muitas vezes, em casos de abuso infantil, os pais acabam tendo uma parcela de culpa por não escutarem as crianças, achando que isso é invenção. “É preciso escutar o que a criança está dizendo. Será que não é verdade? Por que ela está dizendo isso? Tem casos que a criança fantasia. Isso somente o psicólogo pode dizer, mas os pais precisam escutar a criança”, salienta Tatiana Assunção.
Tanto os pais quanto a escola podem contribuir para que o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes deixe de existir.
Para a psicóloga, é preciso que os pais conversem com os filhos, deem abertura para que possam ouvir as crianças e assim poderem orientá-las. “Se eles perceberem que o filho está comentando alguma coisa, é chegar e conversar. Isso vai dar abertura para conversar. Os pais têm que ficar alerta. A criança está intimidada, não quer mostrar o corpo… A criança se tranca, fica mais calada, evita ir para a casa de um tio, de alguém… mudança de comportamento da criança não é normal. Geralmente, elas se tornam mais introspectas, começam a evitar pessoas. Aí é hora de os pais buscarem saber o motivo dessa mudança”, diz.
Com relação à escola, Tatiana orienta que as instituições devem orientar por meio de palestras, chamar os pais para conversar sobre isso, chamar profissionais para conversar, para orientar os pais menos informados. “Muitas vezes eles não entendem que tem que escutar a criança. O que a escola pode fazer é com os pais. Se for fazer alguma campanha na escola é com os adolescentes. Mais do que a escola, são os pais mesmo. Eles precisam estar próximos, acompanhar”, ressalta.

Como diferenciar abuso de carinho?
Muitas vezes, a fronteira entre abuso e carinho não fica bem definida. Até onde vai o carinho, um abraço, um cheiro? Quando isso se torna um assédio e, muitas vezes, a criança não se dá conta nem os pais prestam atenção?
A psicóloga reforça a presença dos pais na vida dos filhos para que eles observem como os filhos saio tratados pelos vizinhos e até por membros da família, já que o assédio de pessoas próximas tem sido bastante divulgado. Diferenciar carinho de assédio é mais delicado. Quanto mais os pais tiverem próximos é melhor para observar isso. Se você vê que é um carinho que está tocando em partes íntimas, isso não pode. Os pais devem orientar a criança que ninguém pode tocar naquela parte do corpo. A quebra do tabu sobre a sexualidade vai facilitar bastante para diferenciar carinho de assédio.
Orientar que se for alguém de fora não precisa estar alisando, beijando”, ressalta.
Créditos: Gazeta do Oeste

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