terça-feira, 5 de julho de 2011

Escritora fala sobre racismo e ausência de personagens negros Heloisa Pires Lima

Um grande escritor pode também ser racista? Uma obra de valor literário indiscutível perde a sua qualidade quando trata os negros, ou outra etnia, de forma estereotipada? Estas questões vieram à tona quando o Conselho Nacional de Educação pediu, no ano passado, que a obra "Caçadas de Pedrinho" fosse contextualizada pelos professores quando utilizadas em sala de aula.
Tudo porque o autor, Monteiro Lobato, utiliza termos racistas ao se referir a Tia Anastácia, uma das personagens centrais da coleção sobre o Sítio do Picapau Amarelo.Para a escritora e educadora Heloisa Pires Lima, a questão é ampla, assim como a obra do escritor paulista. Os mesmos livros escritos na década de 1920 são diferentes daqueles escritos por Lobato vinte anos depois. Por isso, de acordo com ela, é um erro estigmatizá-lo como racista. Para Heloisa, a polêmica criada em torno da decisão do CNE, que pertence ao Ministério da Educação (MEC), empobreceu a discussão. "Houve uma repercussão maldosa por parte da mídia. Não vou ficar aqui defendendo o MEC, mas nunca houve a intenção de vetar o livro. Porém, as escolas têm uma responsabilidade de não deixar este livro simplesmente ‘solto’ na biblioteca", argumenta a professora.Histórias da PretaA presença de personagens negros, ou simplesmente a ausência deles na literatura infantojuvenil, é um dos assuntos que vão ser discutidos na palestra que Heloisa realiza nesta quinta-feira (30), na Oficina Cultural Candido Portinari, de Ribeirão Preto.A palestra faz parte do projeto "Prosa de Saberes", que homenageia este mês o Ano Internacional dos Afrodescendentes.Doutora em antropologia pela USP, Heloisa foi também editora da Selo Negro Edições e consultora para a Educação das Relações Étnico-Raciais e Ensino de História e Cultura Afro-brasileiras e Africanas da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC.Em 1998, publicou ‘Histórias da Preta’, pela editora Companhia das Letrinhas, que aborda os vários aspectos da história de desenvolvimento da identidade de uma menina negra. A obra vem sendo adotada por inúmeras escolas públicas e particulares. "Acredito que para ‘Caçadas de Pedrinho’ circular hoje, tem que se fazer ressalvas quanto a idade do leitor. Quando a criança recebe isso [termos racistas], vai entender como um argumento muito forte", comenta.Para a educadora, não se trata de uma censura, mas de uma atenção maior dos educadores."Lobato tem seus méritos e deméritos. Mas o mais importante é analisar como a sociedade brasileira lida com o racismo na questão editorial", diz.

Fonte: Janayre Souto

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