domingo, 16 de janeiro de 2011

Poetas de pedra no mundo do mar

JOTTA PAIVA
De Areia Branca

O mar não é um limite em Areia Branca, mas uma possibilidade. A cidade que construiu um porto em pleno oceano e que manipula as águas para extrair o sal esconde, entre os pedaços de concreto que formam o centro velho e a barra de areia que faz a borda do mar, artistas, escritores e muitos poetas de pedra.

No catálogo Conexão Arte Visual, do Ministério da Cultura, Fundação Nacional de Arte e Petrobras, que reúne os maiores artistas contemporâneos do país, um dos expositores é um areia-branquense. Anchieta Rolim é hoje um dos artistas plásticos mais conhecidos do Rio Grande do Norte e uma referência da arte geométrica. A matemática de seus trabalhos é particular de um homem que não se deixa influenciar.
O universo é o alvo de Anchieta, que na flor da meia idade ainda acredita no "minotauro" da mitologia grega. Cético quanto ao caráter da vida humana, Anchieta é um crente da ciência e em suas transformações. Talvez esse seja um ponto inicial para a sua arte, que remete tanto ao cubismo quanto ao neo-expressionismo da Alemanha dos anos 1980.
Em seu livro de poemas "Agonia", ele revela a alma desnuda que percebe o mundo e o transforma em arte. Seus poemas que relatam acontecidos vivenciados e traumas sofridos é um mapa para o reconhecimento de seus traços, sejam nos quadros, nas esculturas e nas formas que constrói usando apenas papel.
A exposição "A industrialização do Santo Cristo" foi um dos seus últimos grandes feitos. Em 21 desenhos geométricos em nanquim sobre papel, Anchieta Rolim faz uma crítica dura às religiões que deturpam o sentido original da vinda de Jesus Cristo à Terra, transformando todos os seus feitos em mercadoria da indústria cultural.
"Eu imagino que quando Cristo voltar, algumas pessoas vão querer crucificá-lo novamente para transformar tudo em mercadoria", disse Anchieta. Pensando nisso, ele refaz a vida do advento, repetindo as passagens de sua primeira estada entre os mortais, desde os milagres até a crucificação. Outros desenhos mostram a perversidade humana ante a necessidade da reprodutibilidade técnica, como, por exemplo, um que expõe uma máquina de filtrar sangue, que segundo Rolim, seria usado para destilar o sangue de Cristo.
Na exposição "Os visitantes", Anchieta cria esculturas de seres misturados, frutos de experiências genéticas e mutações da natureza. Para ele, tudo é possível neste mundo onde o passageiro não é o acaso.

VIDA
Anchieta Rolim é um artista em tempo integral que vive disso há pelo menos dez anos. Já realizou muitas exposições pelo Brasil - pinturas, desenhos e esculturas - e agora prepara uma outra que acontecerá em João Pessoa, na Paraíba. Crítico dos costumes tradicionais, ele tenta levar uma vida simples entre a sua casa no centro de Areia Branca e seu atelier na praia do Cristóvão.
Amigo de grandes nomes das artes brasileiras e regionais, Anchieta não se importa com a fama. "Eu conheço muita gente e muita gente me conhece", disse.

A arte em calcário de um pedreiro

De blocos de pedras rejeitados na caatinga, o escultor Tony Martins retira sereias, pescadores e paisagens do sertão. O artista empreende tarefas difíceis, como esculpir em calcário, mesmo sem os equipamentos adequados. Talvez isso seja uma das características que fez suas obras chegarem a tantos lugares do Brasil.
Em sua casa, os trabalhos se amontoam. Desestimulado, Tony desdobra-se entre as várias funções que exerce para poder pagar as contas, como pedreiro, e o silêncio da arte de esculpir.
É nas obras de Michelangelo e Da Vinci que o autodidata procura inspiração. Leitor ávido das teorias, ele encontra no renascimento os traços que o define. O resgate da cultura popular de Areia Branca é também tema de seus trabalhos. 
Tony foi um dos escolhidos pela presidenta da Fundação de Cultura, Edvanda Pereira, para orientar os novos artistas da cidade no primeiro concurso de escultura de areia. A ideia faz parte do projeto 'Arte nas Férias' e pretende descobrir novos talentos na cidade, assim como despertar nos outros o interesse pelo trabalho dos artistas locais. "Pretendemos usar a cultura em favor da cidade", disse Edvanda.

fonte: http://www.defato.com/estado.php#mat3

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