No Brasil, uma pesquisa coordenada pela antropóloga Mirian Goldemberg estima que uma em cada quatro estudantes já deixou de ir às aulas por não ter condições de manter a higiene.
As escolas estaduais paulistas vão receber R$ 30 milhões para o Programa Dignidade Íntima, para combater a pobreza menstrual. A medida, lançada hoje (14), pode atingir cerca de 1,3 milhão de meninas em mais de 5 mil escolas.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), uma entre dez estudantes no mundo tem dificuldades para manter a higiene íntima, com impactos importantes na vida escolar.
Uma das inspirações para o programa foi o projeto desenvolvido na Escola Capitão Deolindo de Oliveira Santos, em Ubatuba, no interior paulista, por iniciativa de alunos e professores. Com o apoio da escola, um kit com absorvente, sabonete e outros itens de higiene foi colocado no banheiro feminino.
“O medo de vazar e manchar a roupa; de ir até o banheiro, pegar absorvente e alguém ver; ou a vergonha de pedir um absorvente emprestado para a colega”, apontou Maria Eduarda, 16 anos, aluna da escola em Ubatuba.
Ela lembra que muitas meninas não têm condições e nem acesso a absorventes, o que as leva, muitas vezes, ao improviso. “[Isso] pode resultar na falta de atenção às aulas e a falta no ambiente escolar. A escola também pode ser um lugar de confiança, mesmo nesse período.”
“O que me surpreende é que dentro da [área] educação, com tantas mulheres, esse tema não ser dito, não ser falado, não ser trabalhado. É uma atitude simples, como a compra de absorventes, que pode mudar a vida das meninas”, apontou Vivian Marchiori, diretora da escola em Ubatuba e que já foi estudante na instituição.
Em 2014, a ONU reconheceu o direito à higiene menstrual como uma questão de direito humano e saúde pública. "Aqui, [em São Paulo], nós estamos garantindo também como um direito à educação para que essas meninas possam ter a dignidade de estar sempre na escola. Esse é um tema muitas vezes tratado como um tabu, pouco falamos e pouco apoiamos. É a primeira vez que a gente enfrenta verdadeiramente isso”, disse a diretora da escola.
A proposta é que, além da aquisição e distribuição de produtos, o programa faça formação com todos os integrantes da escola, estimule o protagonismo dos jovens, distribua material informativo e construa uma rede de apoio na escola para as estudantes. “Não pode ser a pobreza, a vulnerabilidade a limitar a oportunidade de vida, principalmente na escola”, defendeu o governador João Doria ao participar do evento de lançamento do programa.
Agência Brasil
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