A seca que castiga e traz o desconsolo ao
homem do campo – que olha com fé para os céus, tira o seu chapéu e pede,
mais uma vez, a chuva abençoada que faz aliviar o seu sofrimento – tem
mudado a paisagem do semiárido do município de Serra do Mel/RN. Dos seus
campos verdes de pés de cajus, que ladeiam as estradas que levam até a
Vila Rio Grande do Norte, o cinza já tomou conta de suas verdadeiras
cores. O colono que produzia o seu sustento, tirado da safra da
castanha, vê agora apenas de memória, os áureos tempos – de invernada,
bonança e as safras recordes – de seu bem maior. Os poucos bichos
domesticados, que são criados, padecem – muitos sucumbem diante da falta
do pasto e da água – e definham diante das lágrimas de seus donos, que
nada podem fazer para aliviar os seus sofrimentos. Os mugidos se tornam,
nas noites quentes, de céus estrelados, sem prenúncios de nuvens
amojadas, lamentos e desesperos que são orações, em bramidos daqueles
que só têm como defesa o canto piedoso de seus berros.
Poucas chuvas molharam esse chão de dois mil e dez para cá. Os pés de cajus, que dão estes pseudofrutos e a castanha – riqueza natural e frutífera da região –
cuja safra era, outrora, exportada em dezenas de milhares de toneladas,
hoje apenas produzem uma dezena delas, que são embarcadas para os
destinos de antigamente.
Ontem, dia 19/04, os céus se iluminaram e
se mostraram férteis para parir. As nuvens carregadas com o precioso
líquido, que é tão essencial para a vida na Terra, entraram em trabalho
de parto e não demoraram a dar à luz a trilhões de pequenas gotinhas,
cada uma delas, trazendo hidrogênio e oxigênio, essenciais para qualquer
tipo de vida no planeta em que vivemos.
A terra árida, dura que nem concreto de
uma edificação, foi aos poucos sendo acariciada e se deixando penetrar
pela sua bebida predileta. De suas entranhas, quando as poças começaram a
ser formadas, brotou o milagre da vida: os anfíbios voltaram à
superfície e começaram a buscar o novo ciclo da existência nos pequenos e
barrentos laguinhos. As mariposas, os besouros e as saracás (“saraças”)
correram a namorar o brilho das luzes e o calor que emana delas. O
calor sufocante, só amenizado por artifícios criados pelo homem, deu
passagem ao esfriamento natural da temperatura. As telhas, guardiãs
devotadas do que existe entre o chão e os céus – e, com isso, protegendo
o homem das intempéries da natureza –, receberam, candidamente, a
resposta das preces – em forma de pluviosidade –, enviadas a Deus.
Aqueles que se guardam abaixo delas, agradecem. Ela, a cerâmica, deixa
passar, com alegria, não o tórrido calor dos dias de sol escaldante, mas
a agradável brisa de uma atmosfera acolhedora, amena, benfazeja.
As árvores, lavadas pelas lágrimas do
Criador, recuperam o seu brilho e estampam, orgulhosas, o verde
tradicional de suas cores primeiras. O chão, onde elas se encontram,
encharca-se de folhas e galhos que, ressecados pelo longo tempo de
estiagem, não suportaram esperar pelo atendimento às graças pedidas e se
despediram da vida, para darem lugar às suas irmãs mais novas. Mesmo
debaixo das pesadas gotas d’água, os pássaros voam, cruzam, de um lado
para o outro – alguns em busca de um abrigo; outros apenas cruzam, sem
destino, talvez louvando o momento, com seu trinado contente e cativante
–, levando a boa nova, o convite para a festa da futura colheita.
Deus é bom. O Pai não desampara os seus
filhos. Ao homem, ele perdoa seus atos e blasfêmias e aos que, sem
nenhuma compreensão, ignoram Suas Leis, Ele aplica um corretivo como
advertência para que possam refletir sobre como preservar, cuidar e
conviver com a natureza – que lhes dá, de graça, o sustento e o abrigo –
assim como fazem os outros animais.
A Serra está, pois, em festa. Seu povo
agora está mais feliz. Sabe que, com a volta das chuvas, a mesa fica
mais farta, os menores recuperam suas energias e brincam felizes, os
bichos bebem e encontram, no chão, a relva que precisam para matar sua
fome. Como se diz: Deus provê, Deus proverá e jamais abandona os seus
filhos (Reflexão).
As aulas dos dias 19 e 20/04/13, na Serra do Mel/RN, tiveram dois
momentos distintos, porém não menos importantes diante da conjuntura
que se apresenta. O primeiro momento foi a ida da vice-diretora da 12ª DIRED
Helena Maia – coordenadora da Educação do Campo – para a Serra do Mel,
na sexta-feira, dia 19/04. Depois de uma rápida reunião, às 8 h, a
vice-diretora se encaminhou, juntamente com os professores Raimundo
Antonio, Antonia Farias, Tereza Cristina, Luzia Isabela e Elizângela
Sales, todos guiados pelo competente Ramalho e sua Doblô, para uma
visita às vilas que compõem o município e fazer um novo recadastramento
dos alunos do programa ProJovem Campo – Saberes da Terra – e, com isso,
substituir os alunos que já não fazem parte do programa (por diversos
motivos – transferência de domicílio, opção por outra modalidade de
ensino, desistência espontânea ou causada por problemas de saúde ou
gravidez, etc.).
Da esquerda para a direita: professoras Teresa Cristina, Antonia Farias, Elizângela Sales, Luzia Isabela e a vice-diretora e coordenadora da Educação do Campo Helena Maia |
A visita, segundo o ponto de vista da vice-diretora, foi muito profícua.
Além da visita às vilas, a coordenadora também visitou a Secretária de
Educação do município, que se prontificou a divulgar o programa e
arrebanhar mais colonos para fazer parte das turmas Caju e Castanha e Flor do Cajueiro.
Saída da Vila RN para visitar outras vilas da Serra do Mel |
As aulas começaram no período vespertino. Como não houve a presença da
totalidade dos alunos, os professores levaram os alunos, mais uma vez,
para a sala de informática da Escola Estadual Padre José de Anchieta.
Lá, os alunos tiveram, no período da tarde, aulas de: História, Arte,
Português e Matemática.
Foram trabalhadas, em cima do exercício de Arte, as figuras geométricas
(encontradas a partir dos desenhos) e da disciplina de História, a
inserção de um ditado de palavras (disciplina de Português), para, em
seguida, utilizá-las na formação de frases.
À noite, com um grupo maior, foram retomados os trabalhos da tarde e
acrescentadas a leitura e interpretação da música de Genildo Costa.
NOTA DA 12ª DIRED:
O segundo momento foram as abençoadas chuvas que caíram sobre a Serra do
Mel lavando, com força, a aridez do seu solo e trazendo a alegria aos
seus colonos.
Conforme solicitação dos alunos, haverá a mudança dos dias de aula (eles
chegaram à conclusão de que as aulas aos sábados são, invariavelmente,
prejudicadas por fatores extras – falta de água, falta de ônibus, etc.),
ficando para a próxima sexta-feira, dia 03/05, a divulgação, na Serra,
dos dias e horários dos mesmos.
Fonte: Blog da 12ª Dired
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