sábado, 25 de maio de 2013

Como chegou o "Telecurso" a Serra do Mel

PROJETO ALTERNATIVO DE ENSINO À DISTÂNCIA
O Projeto Alternativo de Ensino à Distância chegou à Serra do Mel no ano de 1993. Este Projeto foi trazido, para o município, através de uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Serra do Mel, Governo do Estado do Rio Grande do Norte e a Fundação Roberto Marinho.
No ano de 1993, o recém-criado município da Serra do Mel/RN iniciava a sua segunda gestão com os serviços da saúde prestados pelo governo federal, através da Fundação Nacional de Saúde – FNS –, e a educação infantil, assim como, o antigo 1º e 2º graus, que ficaram sob a responsabilidade total do governo estadual.
A educação na Serra do Mel sempre passou por muitas dificuldades. As principais delas, naquela época, eram a falta de professores e o transporte para atender os alunos da 5ª a 8ª séries do 1º grau e os alunos do 1º ao 3º anos do 2º grau.
Foi diante desta situação difícil que o prefeito municipal da época, Anchieta Martins, procurou o Secretário de Educação do Estado – Sr. Marcos Guerra – e solicitou deste uma proposta inovadora e diferenciada para resolver os problemas da educação no município. Foi nesta oportunidade, que a assessora do Secretário de Estado da Educação, profª Lourdinha Guerra (in memória), falou da proposta educacional da Fundação Roberto Marinho: “O Projeto Alternativo de Ensino a Distância”. Ao falar da metodologia do projeto para o prefeito, indagou se o mesmo aceitaria o desafio de implantar esse novo modelo de ensino na Serra do Mel. O prefeito aceitou o desafio e trouxe a ideia para o município, onde depois de várias reuniões com os diversos segmentos, finalmente foi implantado o Telecurso.
Na época, foi firmada uma parceria entre a Fundação Roberto Marinho (que capacitou os educadores e repassou as fitas VHS com as teleaulas gravadas), a Secretaria de Estado da Educação (que providenciou professores para as telessalas e financiou as hospedagens, em Natal, durante as capacitações, além de recuperar as instalações físicas das escolas) e a Prefeitura Municipal de Serra do Mel (que adquiriu os equipamentos de TV e vídeo cassete e providenciou o transporte para a capacitação dos profissionais de educação).  
Inicialmente, a metodologia do Projeto limitava-se a professores-monitores para coordenar as salas e os alunos, porém os alunos passaram a exigir mais dos seus monitores, levando esses monitores a sentirem-se na obrigação de estudar cada vez mais para ter condições de debater, explicar e tirar às dúvidas sobre os conteúdos trabalhados com os estudantes.
As aulas já vinham prontas em fitas VHS, e a sala de aula estava equipada com 01 aparelho de vídeo cassete e 01 aparelho de TV. De acordo com os horários das disciplinas os professores passavam as teleaulas e depois iam para a discussão sobre o entendimento do assunto e, em seguida, para os exercícios propostos nos livros didáticos do telecurso.
As Vilas Rurais que tinham alunos suficientes, para formar uma turma ou duas, as telessalas funcionavam nas comunidades, evitando despesas com transportes; as que não tinham alunos para formar turmas, estes estudantes eram transportados para a vila mais próxima para assistir teleaulas.
Esta nova metodologia dividiu opiniões entre educadores, pais e alunos, pois é natural às pessoas terem receio do que é novo. No entanto, naquele momento, foi a solução viável para amenizar a falta de professores e transporte escolar.
No 1º grau, cada turma ficou na responsabilidade de um professor, que trabalhava na coordenação dos conteúdos e na resolução dos exercícios de todas as disciplinas. Já no 2º grau, os professores não aceitaram ficar com todas as disciplinas em uma turma, portanto, as disciplinas foram divididas por áreas do conhecimento, mas a metodologia de trabalho foi à mesma.
No Telecurso, os professores passaram por diversas capacitações e foram “obrigados”, pela exigência do programa, de assistir todos os dias as teleaulas, antes de repassá-las para os alunos, e só depois disso, planejavam suas atividades diárias.   
Fui aluno do Projeto, no ano de 1994, estudando o ano escolar equivalente ao 2º ano do 2º grau e, no ano seguinte, como não tinha previsão de iniciar as aulas – por falta de transporte escolar, eu fui estudar na EE Jerônimo Rosado, na cidade de Mossoró, onde concluí o 3º ano, sendo, em seguida, aprovado no vestibular, iniciando a Faculdade de Geografia (Licenciatura) em 1996, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Neste mesmo ano, tive o privilégio de ter a primeira oportunidade de trabalho: fui selecionado e ganhei uma bolsa da Secretaria de Educação do Estado para monitor do Projeto Alternativo de Ensino a Distância. Na época, eu fui capacitado por professores da nossa escola, professores estes que tinham recebido todas as capacitações oferecidas pela Fundação Roberto Marinho, em Natal. Fui para a telessala trabalhar a 2ª fase do projeto e a concluímos no final de outubro de 1996.
Eu tive, portanto, duas experiências no telecurso: uma em 1994 – como aluno e, a outra, em 1996 – como monitor. Aprendi muito como monitor, foi uma experiência marcante em minha vida. Após esta experiência não mantive mais contato com o projeto. Este projeto, na EE padre José de Anchieta, foi trabalhado até o ano de 2000. Retornei a escola em 2006, após aprovação no concurso público, para professor, da rede estadual de educação. No biênio 2010-2011 dei a minha contribuição, na área de gestão, atuando como vice-diretor da instituição e, a partir de 2012, assumi a direção da mesma.
Hoje existem muitos cidadãos e cidadãs no município da Serra do Mel, que passaram pelas telessalas do projeto Telecurso e, hoje, estão inseridos no mercado de trabalho, atuando como: técnicos de enfermagem, professores, funcionários públicos, advogados, gerente de banco e cargos eletivos.
Podemos avaliar que, a crise que a educação vinha sofrendo na Serra do Mel –, a telessala foi a melhor proposta de ensino-aprendizagem para reconquistar os estudantes que haviam desistidos, motivar e restaurar a aprendizagem daqueles que estavam desestimulados e fazer muitos jovens voltar a sonhar com um futuro melhor.

Prof. Roberto de Araujo Silva
Diretor da EE Pe José de Anchieta
Serra do Mel/RN

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