O carro rompia a escuridão da noite, imprimindo boa velocidade, na ânsia de chegar o mais rápido possível à escola, onde lá, à espera, os alunos dos saberes da Terra aguardavam para mais uma noite de estudos. Os dois professores estavam atrasados nos seus horários costumeiros, pois tinham saído de suas cidades com um atraso de meia hora, o que significava dizer que, provavelmente – a princípio –, o horário inicial de aula sofreria uma diminuição em seu tempo dos mesmos trinta minutos registrados entre o sair e o chegar da obrigação. Mesmo assim, os dois iam confiantes que isso não seria problema para dar uma boa aula. O professor Raimundo Antonio até perguntou à sua colega, Antônia Farias, o porquê de ela ter se atrasado e, com isso, atrasá-lo também. A professora, sem perder a sua habitual calma, disse que tinha sido um problema em um dos pneus do carro que a trazia de sua cidade (Upanema/RN) para a cidade de Mossoró/RN, e que a retirada de um para a colocação do outro teria permitido a diferença no tempo de saída de Mossoró para a Serra do Mel/RN.
Finalmente, eles chegaram à Serra. O professor Raimundo Antonio solicitou à sua colega que ela iniciasse a aula da noite imediatamente e que ele, em seguida, daria continuidade. Porém, na chegada à sala dos Saberes da Terra – apesar de já ter visto algumas alunas caminhando pelo corredor de acesso, o professor percebeu que a mesma estava às escuras. Ao tocar no interruptor e acendê-lo, a sala se fez lotada de alunos, filhos de alunos e uma boa parte da direção da Escola Estadual Padre José de Anchieta, que começaram a cantar parabéns para você, num coro uníssono, saudando o professor que estava aniversariando naquela semana. Uma surpresa e tanto para o professor – que em nenhum momento desconfiou de nada – que estava preocupado com o atraso e, consequentemente, com a diminuição do horário de aula, mas que esse (o atraso) tinha sido proposital, combinado entre diretor, professores e alunos, para dar tempo de os alunos chegarem de suas vilas e arrumarem a sala (colocando mesas, montando o projetor multimídia interativo e o aparelho de som, para homenagear o professor aniversariante) e aguardar a chegada do prezado educador.
“Ser educador é, antes de tudo, uma questão de vocação, de saber que a melhor remuneração que poderá receber é o reconhecimento do seu trabalho através de uma homenagem, de um obrigado, de uma palavra de gratidão e jamais de um excelente salário. Não há dinheiro que pague uma cena como esta, um aperto de mão e um sorriso de orgulho nos lábios e/ou uma lágrima de agradecimento por uma vitória alcançada com a ajuda de um educador. Esses são os melhores pagamentos que um mestre pode receber em sua vida de docência. Não o contracheque no final do mês”, disse emocionado o professor Raimundo Antonio.
A aula teve, então, o seu planejamento mudado. O professor sentou-se e viu passar, em slides, a sua vida na Serra do Mel, através das aulas, das visitas às vilas onde moram seus alunos, tudo coordenado pela professora Teresa Cristina e planejado há exatamente um mês.
O professor, feliz e emocionado, agradeceu e aproveitou para repassar algumas informações vindas da coordenação e direção da 12ª DIRED (com relação aos projetos das hortas comunitárias, a viagem que os alunos devem fazer a uma comunidade onde também há Saberes da Terra – Campo Grande/RN – e o Tempo Comunidade que será retomado com um novo projeto de visitas).
No final, para não perder o costume da prática pedagógica, os professores passaram um texto para reflexão falando sobre a Páscoa e como essa, trazida para a realidade deles, podia ser debatida no grupo.
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| O professor assistindo 14 meses de aula no telão |
NOTA DA 12ª DIRED:
A professora Elizângela Sales esteve ausente nos dias 24 e 25/04 (tarde e noite) por motivo de saúde do seu esposo. A professora Luzia Isabela está em licença-maternidade e também esteve ausente das aulas na Serra. Na sexta (25), em virtude do falecimento de um pai de um aluno, não houve aula no turno noturno.
Fonte: Blog da 12ª Dired
