terça-feira, 4 de junho de 2013

Jovens se arriscam como empresários e vencem na vida

Projeto desenvolvido em escolas públicas está gerando renda no interior do país. Suellen, Walter e Abigail encontraram o caminho da prosperidade.

Projeto desenvolvido em escolas públicas está gerando renda no interior do país. Suellen, Walter e Abigail encontraram o caminho da prosperidade onde ninguém acreditava que fosse possível.
O que haveria de inspirador na vida dura dos ribeirinhos da Amazônia?
“Pessoas que tiveram superações de vida, que hoje estão bem de vida porque se superaram e acreditaram no seu potencial de sobreviver”, diz a estudante Suellen da Silva. 
O que se pode esperar de quem enfrenta a aridez do sertão? “Oportunidade está onde a gente menos espera. Às vezes, você anda na rua, tropeça em uma pedra e ali está a oportunidade”, destaca o chefe de cozinha Walter da Costa Dantas.
Que força criativa pode vir da periferia empobrecida? “Eu acho que é a dinâmica do povo brasileiro. Ele não gosta de ficar parado. Sempre tem de ter uma perspectiva”, diz a estudante Abigail Souza.
Suellen mora em Abaetetuba, no Pará. Walter é de Currais Novos, interior do Rio Grande do Norte.  Abigail vive em Olinda, Pernambuco. Em comum, a infância difícil, o esforço para chegar à escola pública e uma porta aberta por voluntários e professores treinados pelo Sebrae.
“Eles aprendiam com o Sebrae e repassavam para gente. Então a didática era, mais ou menos, despertar características empreendedoras nos jovens e também tirar um pouco do tempo do jovem para evitar que ele ficasse fazendo coisas erradas”, conta Walter.
Nos últimos dez anos, mais de 600 mil alunos já receberam aulas de educação empreendedora, mesmo nas ilhas distantes de Abaetetuba.
Quando Suellen chegou em casa com a novidade, a mãe dela não conseguia entender direito.
Repórter: Mas o que a senhora achava que era empreendedorismo?
Maria da Conceição: Não imaginava.
Parecia coisa de gente rica, que mora em bairro chique e só anda de carrão importado. Mas, aos poucos, o pessoal foi se dando conta de que empreender é, no fundo, uma maneira engenhosa de criar oportunidades. E muitas vezes a oportunidade pode estar bem diante do nariz.
“Nós passamos a dar mais valor a uma coisa que a gente desprezava nas ilhas. O meriti é uma palmeira típica da Amazônia. Nós tiramos da árvore alguns galhos. Colocamos essa matéria ao sol, para secar. Daí nós cortamos, lixamos, colamos o material”, explica Suellen.
Uma fabriqueta de peças de artesanato com o talo do meriti. É como se fosse uma empresa de verdade, montada com a ajuda dos comerciantes da cidade, que participam falando sobre negócios.
“Os relatos que a gente tem dos professores e dos alunos nas escolas é de que, na semana seguinte, eles já começam a ter uma mudança de comportamento diferente e, ao longo dos meses, vão incorporando uma nova maneira de ser e de fazer acontecer nas suas vidas”, avalia Marinoel Manolo de Souza - presidente da Associação Comercial de Abaetetuba.
Os garotos concorreram com outros 5 mil alunos e ganharam um concurso de melhor miniempresa do Brasil.
“Nós somos os arquitetos do nosso caminho. Nós temos, sim, essa possibilidade de fazer. Tudo o que nós queremos nós podemos fazer. Cabe a nós a vontade e o desejo de buscar as coisas para cada um de nós”, destaca Suellen.
Quando o projeto miniempresa chegou ao fim, numa escola estadual de Olinda, os alunos se perguntaram: por que não continuar fora da sala de aula?
“Se a gente quiser seguir, a gente vai e vamos ver se dá certo, faz um marketing legal, alguma coisa do tipo, e vamos ver”, diz a estudante Adilana Santos.
Com caixinhas de leite recolhidas na própria escola, a confecção de bolsas e carteiras já tinha sido um sucesso.
“No ano passado, a gente teve uma venda de mais de 379 bolsas, chegando à estimativa de 479% de rentabilidade, mais ou menos. Mais de R$ 3 mil em dinheiro”, revela Abigail.
O negócio hoje prospera na casa de Abigail. Trabalhando por encomenda, atendendo a pedidos pela internet, o faturamento aumentou.
“Se você quiser, no caso, escolher uma estampa, a gente pode produzir. Você pode usar ela no parque, em casa, pode usar como carteira, pode usar em uma festa, em um baile, em uma formatura”, conta Abigail.
A mãe dela, Ana Cláudia de Souza, empolgada com o negócio, acha que o tino comercial da filha não tem limites: “Quem sabe se ela não vai ser dona de uma multinacional?”.
Mas Abigail gosta dos pés no chão. Vai investir em conhecimento, fazendo vestibular para administração de empresas.
“Eu acho que todos nós somos empreendedores, pelo menos no nosso futuro. Porque, se você quer ser algo na vida, você tem que arriscar, tem que tentar. Então você está investindo. Mesmo que seja nos seus estudos”, ela destaca.
Estudo é a obsessão de Walter. Ele já fez 16 cursos de culinária. E acha pouco: “Eu quero estudar em qualquer escola que possa me fazer melhor do que eu sou hoje”, diz.
Desde que tenha a ver com a paixão da vida dele: “Segundo minha mãe, eu tenho 27 anos de idade e 27 de cozinha”, brinca.
Filho de uma cozinheira, Walter sentia uma atração natural pela alquimia colorida e luminosa das receitas.
“Todos os cheiros, as cores, os sabores. A cozinha era um mundo que encantava uma criança que não pensava em parque, em outra coisa. Todas as luzes dos temperos, as cores. Tudo que era bonito nos temperos me fascinava muito”, lembra.
Ainda adolescente, foi trabalhar em um restaurante de Natal. “Esse rapaz era um menino! Ele resolvia tudo. Então o apelido dele aqui era ‘Doido’”, lembra Marinalva Oliveira, dona do restaurante.
Doido de tanto trabalhar, de tanto se interessar, de tanto querer aprender. “Tinha um fascínio, até por vir de berço da minha mãe, essa coisa da cozinha. Mas até então eu não via isso como um negócio”, ele conta.
Até receber aulas de educação empreendedora na escola pública onde estudava. “Então a didática era basicamente essa: mostrar características que até então a gente não tinha visto”, lembra.
Quando acabou o ensino médio, foi morar em São Paulo para se aperfeiçoar e, quem sabe, cruzar com seu grande ídolo: “Alex Atala. Porque o que ele faz da comida brasileira, eu começo até a tremer de falar dele, como ele mexe com a comida brasileira e leva isso para o mundo”, diz.
Alex Atala nunca apareceu diante de Walter, mas o conceito do cozinheiro famoso, Walter levou de volta para o sertão: “É uma fusion cuisine, uma cozinha de fusão. Eu uso ingredientes meus, aqui do meu estado, para fazer comidas do mundo todo”, revela.
O primeiro restaurante de Walter, em Currais Novos, deu tão certo, que já abriu uma filial em Caicó, onde a mãe dele comanda a cozinha. “Eu penso que daqui a dois anos eu já posso pensar em começar a estudar franquias e aí começar a expandir”, diz.
Ambição demais? Para Walter, é só o ensinamento que recebeu da professora na escola pública onde estu
dou, e que hoje lhe permite oferecer 27 empregos de carteira assinada e faturar R$ 700 mil por ano.“Onde existe um problema sempre há uma necessidade de um serviço que possa melhorar esse problema”, destaca Walter.
Fica a dica do mestre cuca de Currais Novos, senhor dos sabores do sertão do Seridó: “O maior sabor da vida é ser feliz”.
NOTA DO BLOG:
I Feira do Jovem Empreendedor da EEPJA em 2010
Há 3 anos que a E E Pe José de Anchieta vem trabalhando com o Projeto Despertar, a nossa primeira feira em 2010 foi um sucesso absoluto, considerado pela equipe do SEBRAE como uma das melhores feiras de jovens estudantes empreendedores do Estado. Mas hoje, estamos com a 4ª edição do Projeto aberto e  não iniciamos ainda por falta de alunos inscritos nas aulas de empreendedorismo. O Projeto é voltado para alunos matriculados no ensino médio regular, as aulas são trabalhadas com o prof. Adailson Antonnio.

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