domingo, 31 de julho de 2011

Problemas nas escolas revelam o caos na Educação


“Muitos problemas”. Essa é a resposta dada pelos alunos do 9º ano de uma das escolas da rede pública do Estado, quando questionados sobre a realidade da instituição. Pouco mais de uma semana do retorno das aulas por parte dos professores da rede de educação básica, a realidade da educação no Rio Grande do Norte não sofreu nenhuma alteração. Independentemente de considerar a contagem da greve do início da sua deflagração, no dia 28 de abril em Natal e no dia 29 em Mossoró, ou a partir da paralisação oficial, 2 de maio, o movimento paredista foi o maior realizado no RN.

Porém, nem assim surtiu o efeito desejado. A reivindicação principal foi o reajuste salarial, mas junto com a luta, a denúncia de uma realidade que prejudica, diariamente, estudantes de boa parte das escolas públicas, a exemplo do que acontece em vários lugares do país.
  
Faltam professores e técnicos, material didático, estrutura adequada e segurança eficaz nas instituições de ensino. A Escola Estadual Santo Antônio, localizada no bairro que dá nome ao colégio, é exemplo claro disso. Na unidade escolar, as atividades foram paralisadas antes mesmo de a greve ser deflagrada. A razão foi a insegurança.

Após a tragédia em que um jovem que entrou em uma escola no Estado do Rio de Janeiro e atirou em várias pessoas, um grupo de alunos da instituição local, ao se dirigir ao colégio, encontrou no caminho pessoas dizendo que iriam invadir a escola e atirar nos presentes. Em um primeiro momento, o alvoroço foi criado e os alunos liberados. “Realmente, uma semana antes da greve nós paralisamos as nossas aulas pela questão da insegurança”, confirma a coordenadora pedagógica da escola, Maria Rosália.

A decisão de interromper as aulas foi tomada em consenso com os pais dos estudantes. Na semana seguinte ao alvoroço, a mãe de um aluno da escola ouviu alguém falar que não tinha conseguido concretizar o plano no dia anunciado, mas que o faria naquela data. Os pais foram reunidos e, mais uma vez, os alunos liberados. “Poderia ser uma brincadeira, mas poderia também não ser e resolvemos não arriscar”, conta a coordenadora.
Como a responsável pela 12ª Diretoria de Educação e Desportos (12ª DIRED), Magali Delfino, tinha sido chamada ao local e iria comparecer no dia seguinte, o encontro foi extenso também aos pais dos estudantes. No dia marcado, a diretora da Dired compareceu. “Ela foi bem clara, disse o que tinha disponível naquela hora e não tinha nada”, afirma Maria Rosália, informando que a representante da Dired ficou de entrar em contato com os superiores para buscar soluções. 
Maria Rosália conta que a equipe do PROERD e da Polícia também foi ao local, mas não tinha como oferecer a segurança permanente. Assim, ficou definido que as atividades só seriam retomadas quando a questão fosse solucionada.

A insegurança, porém, não era novidade. Anteriormente ao fato mencionado, era comum a presença de pessoas estranhas à comunidade escolar dentro do prédio. “Antes disso, chegavam à escola pulando o muro”, conta a coordenadora. Sem alternativa, a equipe do colégio “pedia” para que as pessoas se retirassem. Eles também solicitavam ajuda à Polícia e, embora as viaturas atendessem ao chamado, às vezes estavam longe e demoravam, sem falar que não podiam permanecer no local.

Em virtude da insegurança, os professores que trabalham no local e possuem algum tipo de transporte deixam os veículos longe do prédio. Se estacionarem em frente já sabem, encontram arranhões e perdem retrovisores.
Um dos professores relata ainda o caso de uma aluna que teve o celular tomado em frente ao colégio. A coordenadora pedagógica conta também que este ano a escola perdeu a câmera digital e, embora em 2011 tenha diminuído o número de roubos, a instituição também ficou sem um ventilador.
A greve começou, terminou e nada foi feito. A realidade do local é exatamente a mesma, as únicas mudanças apontadas indicam pioras. “O porteiro que a gente tinha aqui ficou tão amedrontado que pediu remoção”, diz Maria Rosália.
Na Escola Estadual Santo Antônio, a greve foi parcial. Como boa parte do quadro funcional é composta por bolsistas ou professores seletistas, não puderam aderir ao movimento. Aqui está outro problema, a falta de profissionais. A pedagoga informa que a instituição atende cerca de 500 alunos nas turmas de primeiro ao nono ano. No turno matutino são dez turmas, mas apenas três professores efetivos, os demais são bolsistas. À tarde, horário em que funcionam outras dez turmas, quatro docentes são seletistas, os demais efetivos. Esses professores seletistas são contratados pelo período de um ano, o que implica dizer que, ao término de cada contrato a situação se repete. Este ano, a escola só passou a contar com professor de Artes no mês de maio. No ano passado, a deficiência maior foi na disciplina de Matemática, cujo professor só chegou em outubro.
“Quando a gente faz esse movimento, claro, a questão principal é o nosso salário, mas também é a educação, a questão da estrutura da escola, professores”, diz a coordenadora pedagógica, se referindo à greve.
E não acaba por aí. Falta material didático. Como os livros são enviados para as escolas com base em números do censo que antecede o ano letivo em curso e, dificilmente uma nova turma conta com número de alunos menor que a turma anterior, os livros, em muitos casos, não são suficientes para todos os estudantes. “Os que nós tínhamos, nós já entregamos”, conta a coordenadora. Quando o material não é suficiente, então é feita a garimpagem para recolher os livros excedentes nas outras escolas. Mesmo assim, a medida às vezes não resolve a situação. Então a escola divide as turmas de acordo com autores diferenciados, para que o conteúdo seja abordado de modo uniforme em uma mesma turma. Quando nem isso resolve, a questão se complica ainda mais. Eleger quem vai receber os livros é difícil. Para tentar amenizar o problema, os professores buscam dentro de uma mesma série, reunir alunos que sejam irmãos e colocá-los na mesma classe e se nem isso resolver, a solução é trabalhar em grupo, entregando e recolhendo os livros a cada aula. Nas vésperas de prova, os grupos para estudo são formados, elegendo como critério a proximidade das residências dos estudantes, para que eles possam estudar. 

No 9º ano vespertino, a menor turma da escola, que conta com cerca de 20 alunos, os estudantes ainda não receberam o livro de Matemática, porque a chegada do professor da disciplina à instituição se deu tardiamente. 

O acesso à internet e às ferramentas de pesquisa até poderiam ser uma medida para proporcionar aos alunos acesso a conteúdos didáticos e a escola até conta com um laboratório de informática que, por uma série de problemas, ainda não foi utilizado. A conexão à internet não está sendo concluída. Para resolver a questão, é preciso solicitar, por e-mail, a presença de um técnico do Estado no local. De acordo com Maria Rosália, três e-mails já foram enviados e até agora o técnico não apareceu.
Os alunos são conscientes da realidade e têm propriedade para falar. Ao serem questionados sobre os problemas da escola, são genéricos na resposta. Alguns são mais específicos; para quem se atreve a responder, é preciso aumentar o número de funcionários, de professores e melhorar a qualidade da merenda escolar. Uma das alunas, que conta que tem amigos que frequentam colégios particulares, diz que percebe a diferença com relação aos amigos das instituições privadas de ensino.
Estadualizada no ano de 1998, a estrutura da escola não ajuda. Janelas quebradas, quadros pequenos para escrever todo o conteúdo, carteiras que deixam a desejar. A quantidade reduzida de funcionários é outro problema e pode ser verificado facilmente com uma volta pelos corredores sujos devido à falta de um ASG. A pessoa que fazia a limpeza da escola foi aposentada e, embora a diretora da escola tenha solicitado a substituição da profissional, uma nova pessoa para ocupar o posto ainda não foi enviada.
A coordenadora pedagógica diz que a direção da escola tenta fazer o que pode. “A nossa direção é uma pessoa muito comprometida, e graças a ela é que as coisas acontecem”, diz.
Desafios vividos por profissionais e estagiários são semelhantes

“Estamos voltando para as salas de aula encarando os mesmos problemas. A realidade da escola permanece. Não há investimento na educação”, denuncia o professor da Escola Estadual Santo Antônio, Jean Carlos. “Por mais que o discurso seja bonito, eu não acredito”, acrescenta. 
Ele comenta que a questão salarial pesa. No entanto, a realidade também contribui para afastar os possíveis candidatos a professores. “É a greve que atrapalha isso? Não”, constata Jean Carlos.

E ele tem razão, o quadro que vem sendo desenhado pela educação não atrai profissionais. Exemplo disso é o estudante do curso de licenciatura em Química na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Daniel Segundo Xavier da Fonseca. Mesmo sem concluir o ensino superior e ingressar como profissional em uma sala de aula, ele já sabe quais os desafios que a educação propõe aos educadores. No ano passado, Daniel estagiou na Escola Estadual Professor José de Freitas Nobre, que oferece aulas do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Somando o período de estágio obrigatório, exercido como parte da formação acadêmica, e o período em que foi bolsista pela Dired, foram oito meses de experiência em sala de aula. As condições encontradas pelo jovem não são muito diferentes daquelas com que os professores com anos de carreira se deparam.
O último estágio de Daniel foi bastante desgastante, pois, como consequência da falta de docentes, pegou quatro turmas, sendo elas, os três anos do ensino médio e o 7º ano, do ensino fundamental, onde deu aulas de Ciências. “De faltar professor da parte de Ciências não, mas por Química eu tive que pegar todas as turmas porque não tinha professor”, conta.
O acadêmico lembra que os universitários vão para as escolas sem conhecer os locais de ensino, embora haja troca de experiência com quem já frequentou os espaços. Daniel diz ainda que houve turmas das quais gostou e até sentiu saudades, o que incomoda são as condições de trabalho. “Eu acho que o principal problema, se a gente for avaliar, são as condições de trabalho e o salário que é bem pouquinho”, constata. 
Para se ter uma ideia, o jovem relata que, na escola onde trabalhou, os professores ainda utilizam giz e as salas não têm ventiladores. No local a segurança também é precária e até uma briga marcada para acontecer dentro da instituição já houve no ano passado.
Além disso, o próprio sistema educacional dificulta as coisas, pois a carga horária para cada disciplina é pequena, o que inviabiliza a transferência do conhecimento. “Você nunca vai conseguir terminar o livro”, afirma. 
Sem ter iniciado, profissionalmente, o estudante reconhece a situação de quem já faz parte da categoria. “Você viu agora como os professores foram tratados”, diz ele, se referindo ao período da greve. 
Daniel diz que, inicialmente, pensava em seguir carreira na área da indústria, mas mudou o pensamento e hoje quer lecionar, detalhe, no ensino superior. É com o pensamento em uma instituição mais avançada que Daniel mantém o estímulo. Ele, que se sente atraído pela pesquisa, pretende realizar uma pós-graduação e lecionar. Já a realidade nas escolas públicas: “Desestimula. É difícil, você fica até traumatizado”, afirma.
Problemas se repetem e ampliam número de prejudicados
No Centro Educacional de Jovens e Adultos (CEJA) Alfredo Simonetti, a maior escola estadual em Mossoró em termos de alunos matriculados, conforme informou o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (SINTE), Rômulo Arnaud, a realidade não é tão diferente. 
De acordo com a diretora do CEJA, Socorro Barbosa, são cerca de dois mil alunos matriculados no supletivo, divididos em turmas que vão desde os anos iniciais do ensino fundamental até o ensino médio. Os alunos também se dividem nas diferentes modalidades de ensino oferecidas. Além das turmas fixas presenciais, o CEJA, segundo explica a diretora, conta, com subnúcleo na Penitenciária Agrícola Mario Negócio e ainda com subnúcleos em duas outras escolas do Estado.

Outra modalidade de ensino é a que estipula a divisão por blocos. A diretora explica que cada bloco é formado por disciplinas diferenciadas. Através do método, 50% do conteúdo é ministrado dentro da sala, onde a aulas são ministradas três vezes por semana. Os outros 50% são registrados de acordo com atividades recomendadas pelo professor. 
O bloco A é formado pelas disciplinas de Português, Biologia e Educação Física; o bloco B é composto por Matemática, Física, Filosofia e Inglês; as disciplinas de Química, História, Geografia, Sociologia e Artes compõem o chamado bloco C. Por esse método, no período de um ano e meio o estudante conclui o ensino médio. “São 300 dias letivos”, informa a diretora.
Além do método, outra forma encontrada para que os alunos possam concluir os estudos é através da Comissão Permanente de Exames. Segundo essa metodologia, o aluno que, por algum motivo, seja aprovação em concurso ou mudança de cidade, por exemplo, precisar concluir os estudos mais rapidamente devem proceder do seguinte modo: primeiro é feita a inscrição, no ato, ele recebe o conteúdo que deve estudar e algumas dicas de bibliografia.
Quando se sentir preparado, independentemente do tempo decorrido desde a inscrição, ele procura a escola para marcar a prova. A metodologia é válida tanto para o ensino fundamental quanto para o ensino médio e pode ser realizada ainda para concluir desde uma simples disciplina até todo o ensino médio ou fundamental. Desse modo, o Estado não garante nenhum acompanhamento do aluno. Ele nem ao menos pode contar com o apoio material da escola, pois a maior parte dos livros existentes na biblioteca do CEJA são paradidáticos. “A nossa biblioteca não disponibiliza muitos livros”, menciona Socorro Barbosa.
Com exceção do exame de Português, que conta com uma questão discursiva – redação – todas as outras provas são dotadas apenas de questões objetivas. Além de todas as “facilidades”, se o aluno não for aprovado, ele ainda pode solicitar a realização de uma nova prova trinta dias depois de fazer a primeira. 
De acordo com a diretora, não são todos os alunos que passam pela Comissão Permanente de Exames. “São casos, realmente, bem específicos”, afirma. Apesar disso, no ano passado, só no ensino fundamental 407 alunos se inscreveram junto a Comissão Permanente de Exames. Desses, apenas 74 concluíram, o que representa 18,2% dos inscritos. Já no ensino médio, em 2010, 1.094 alunos optaram pela conclusão através da Comissão Permanente de Exames, mas apenas 303 concluíram, o que equivale a uma incidência de 27,7%. Alguns dos aprovados integram a rede de alunos de instituições como o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), o que leva a crer que um percentual dos que passam no exame conseguiu o feito graças ao suporte proporcionado por outras instituições de ensino. 
Este ano, de janeiro a março, já havia 234 alunos matriculados para concluir o ensino fundamental e 412 para tentar finalizar o ensino médio.
 
Para o coordenador regional do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Rio Grande do Norte (SINTE/RN), Rômulo Arnaud: “Isso é mais complexo ainda. É uma forma de remediar”. Para ele, a metodologia é uma forma encontrada para aumentar os índices referentes ao grau de escolaridade das pessoas. “Isso é apenas para mascarar o fracasso da educação”.
A falta de livros também é um problema no CEJA. No ano passado a escola fez a escolha dos livros que serão utilizados este ano pelo ensino fundamental. O ano letivo começou em fevereiro, mas os livros só chegaram em maio. “Quando os livros chegaram havia iniciado a greve”, conta a diretora. Dessa forma, não houve como fazer a distribuição e somente agora, no fim do mês de julho, os estudantes terão acesso ao material, e não há garantia de que todos serão contemplados. “Não posso afirmar que seja suficiente, mas acredito que não vai faltar muito”, confirma Socorro Barbosa.
Já os estudantes do ensino médio não dispõem de livros. A diretora explica que este ano foi feita, pela primeira vez, a escolha dos autores para que no ano que vem a escola possa ser contemplada. “O CEJA é que não tinha tido ainda oportunidade de escolher livro para o ensino médio”, comenta a diretora. Enquanto isso, a DIRED doou os livros excedentes da diretoria. Como não havia material para todos, foi feito um levantamento entre os alunos do terceiro ciclo, que equivale ao terceiro ano do ensino médio, os únicos que serão contemplados. 
As estudantes do terceiro período, ou terceiro ano do ensino médio, Luana Aline Andrade de Oliveira e Amanda Lima relatam a dificuldade de livros. Elas contam que foram à biblioteca da escola pegar emprestado um livro de Física, mas só havia um exemplar, e vários estudantes solicitando o empréstimo. Ninguém pôde levá-lo. Amanda também reclama quanto aos livros de Geografia e História adotados, ela os considera ultrapassados. “É por esses livros que a gente vai estudar”, diz ela. A aluna conta que possui dois exemplares de Biologia, mas só teve acesso aos livros porque não os devolveu na escola onde estudava. “A gente faz o possível para tentar, para conseguir livros para estudar, mas é difícil”, menciona.

No ano passado a escola sofreu com o déficit de professores, pois alguns deles se afastaram porque conseguiram a aposentadoria. Este ano, a professora de História, que também ministra aulas de Geografia, anunciou, na semana passada, que sua aposentadoria foi divulgada no Diário Oficial. De acordo com Socorro Barbosa, a situação será comunicada à Dired para que seja providenciado um substituto. Ela acredita que a chegada do novo professor não irá demorar, tendo em vista o empenho da direção. Mas vários outros professores da instituição estão com a aposentadoria em trâmite, mas ainda estão exercendo as atividades.
De acordo com a diretora, são, aproximadamente, 50 professores em atividade na escola. “Nós temos um professor bolsista, dois professores do processo seletivo e os demais são efetivos”, afirma. A necessidade atual, segundo ela, é de um professor de Letras, com habilitação em Língua Inglesa, e de um professor de História.
A insuficiência no número de profissionais resulta, automaticamente, na sobrecarga de outros. O professor Francisco Barbalho Filho, por exemplo, é graduado em Matemática e em Física, e, além dessas duas disciplinas, também leciona Química e Ciências. São dez aulas por dia. Isso também acontece porque o professor possui dois vínculos com o Estado para poder aumentar o rendimento no fim do mês. “Esse é o problema dos baixos salários do Estado para você sobreviver”, afirma.
A existência de profissionais com mais de um vínculo empregatício é comum para os professores. De acordo com o presidente do Sinte, hoje, 70% dos funcionários possui mais de um vínculo, sejam os dois no Estado, um deles no município ou o segundo vínculo ligado a uma profissão liberal. Isso acontece para que eles consigam aumentar o rendimento e sobreviverem. “Às vezes, a atividade em sala de aula é até um bico, porque é o menor salário que eles recebem”, diz o sindicalista. 
Como consequência da sobrecarga, o rendimento cai. “Acho que se a carga horária fosse menor, seria melhor para se preparar”, confirma o docente. 
Para ele, a razão de tantos problemas pode ser resumida da seguinte forma: “Acho que o maior problema hoje é que não se trata a educação como prioridade”, diz, acrescentando que o Estado alegou a falta de recursos para atender às reivindicações da categoria, mas haverá verba para investir na Copa de 2014.
Ele ainda destaca o desestímulo dos alunos, o fato de alguns se deslocarem da zona rural para assistir à aula e afirma também que o supletivo não recebe o mesmo tratamento dado ao ensino regular. Com relação ao resultado da greve, comenta: “Acho que nenhum professor voltou satisfeito”.
“O desânimo é muito grande por parte dos professores”, reforça o presidente do Sinte, acrescentando que os profissionais estão ressentidos, desestimulados, o que afeta a qualidade das aulas.
Só o amor pela profissão é capaz de manter os professores em salas de aula. Apesar dos problemas, Francisco Barbalho Filho continua na luta e justifica: “Porque eu gosto”.
Dificuldades levam estudantes ao desestímulo
Diante de uma realidade tão precária, quem mais sofre são os estudantes, e fica difícil manter vivo o sonho de uma graduação. Quem está no terceiro período ou terceiro ano do ensino médio sabe disso. Luana Aline Andrade de Oliveira é uma das alunas da turma. Ela sonhava em fazer Psicologia, mas como o curso não está disponível em nenhuma das universidades de Mossoró ainda não fez sua escolha. Dúvidas à parte, ela não se sente preparada. “De jeito nenhum”, afirma. “A dificuldade é o ensino que é precário, a qualidade do ensino é precária”, argumenta.
“O ano passado a gente ficou sem aula de História o ano todinho”, afirma. Como consequência, este ano tem ainda mais dificuldade para ver o conteúdo da disciplina no terceiro módulo sem ter tido acesso ao conteúdo dos dois módulos anteriores, cursados em 2010.
Com todas as dificuldades, ela decidiu se submeter ao Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). “Mas eu tenho certeza de que eu não tenho a mínima condição de atingir o ponto”, desabafa a aluna.
Luana Andrade conta que a turma não recebe livros. A metodologia é através de apostilas que os professores indicam e os alunos tiram a cópia.
Já a colega de turma Amanda Lima pretende fazer vestibular. “Estou tentando fazer enfermagem ou algum curso ligado à Medicina”, conta. Assim como boa parte de seus companheiros do supletivo, Amanda trabalha, e o único momento que tem para estudar é quando está na escola. Durante a greve, conta que não pegou em uma apostila sequer, porque aproveitou a ausência de aulas para ficar no trabalho os dois horários. “Para retornar, a gente já vai ter esquecido o assunto”, comenta.
Para elas, no entanto, a paralisação não foi o único fator a prejudicar a educação. As estudantes acreditam que, mesmo com todas as aulas, não teriam condições de passar em um processo seletivo para ingresso em uma universidade, como menciona Amanda. “Mesmo sem a greve eu admito que o ensino é muito precário”, diz Luana Andrade.
Falta de professores e o pior salário do país
A falta de profissionais em sala de aula é o maior problema da educação, na visão do coordenador regional do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Rio Grande do Norte (SINTE/RN), Rômulo Arnaud. Ele cita o caso da Escola Estadual Professor Abel Freire Coelho, uma das maiores entre as instituições de ensino públicas do Estado em Mossoró, e onde, segundo informações do coordenador, faltam dez docentes. A necessidade é maior nas ciências naturais.
 
O coordenador destaca o resultado da pesquisa do Sindicato dos Professores no Estado do Ceará (APEOC), que apontou que o salário dos docentes da educação básica da rede estadual do Rio Grande do Norte é o pior do país. 
De acordo com os dados publicados no site da Apeoc, a pesquisa técnica tem como referência-base o salário do professor com licenciatura plena e jornada de 40 horas semanais de trabalho, isto é, 200 horas/mês (incluindo as gratificações) do professor em nível inicial de carreira. Segundo o estudo, o RN lidera o ranking de pior salário com ranking de menor salário do Brasil. Ele também é o Estado onde a hora/aula possui o menor valor, menos de R$ 6,00.
Mesmo assim, ele afirma que a greve tão trouxe tantos ganhos. “O que nós temos de concreto é a valorização do piso salarial”, diz. Segundo ele, o pagamento era para ter sido em abril, mas será realizado a partir de setembro. Com relação ao aumento de 34%, anunciado pelo governo, o líder sindical argumenta que esse aumento não irá atingir todos os professores. 
Rômulo Arnaud também faz referência ainda à situação física das instituições e lembra o caso do Caic, que continua interditado. O local foi interditado em setembro do ano passado pelo Corpo de Bombeiros, por estar com a estrutura comprometida.
A reforma foi iniciada, mas em boa parte do prédio os serviços não foram realizados, a caixa d’água, uma das partes mais comprometidas do prédio, ainda não foi trocada e a estrutura de combate a incêndios, solicitada pelo Corpo de Bombeiros, também não foi instalada. As obras foram interrompidas. “Não tem ninguém trabalhando. Está totalmente parada”, diz o diretor do Caic, José Pereira.
Ele conta que a informação que recebeu por parte da Dired é que o processo para iniciar a segunda etapa da obra está em andamento, mas não há nada definido. Além disso, José Pereira diz que há cerca de dois meses tenta marcar uma audiência com a secretária de Educação do Estado para discutir a situação da escola, mas ainda não conseguiu. “Nós esperamos que, realmente, eles tomem as providências”, afirma o diretor, que conta que os alunos estão angustiados para voltarem ao local.
Enquanto isso, os estudantes continuam assistindo às aulas na Escola Pereira Lima, a qual não oferece as condições necessárias para acomodar todos os estudantes.

Diretora da Dired fala sobre os problemas
Até fevereiro de 2012 o Governo do Estado deve realizar concurso e convocar novos professores. O edital deve sair em breve, conforme informou a responsável pela 12ª Diretoria de Educação e Desportos (12ª DIRED), Magali Delfino. Segundo ela, serão convocados 3.500 professores em todo o Estado.
Somente a circunscrição da DIRED abrange, ao todo, oito municípios, totalizando 86 escolas e 1.411 professores. Em média, são 42.000 estudantes. Em Mossoró, o Estado conta com 62 escolas, de acordo com a chefe da Dired.
Com relação à falta de professores, ela diz que o Estado conta com professores efetivos, seletistas e bolsistas. Quando faltam profissionais, os diretores têm autonomia para relocar os professores existentes para outras disciplinas, preenchendo a carga horária dos mesmos, e há estagiários contratados a todo momento. 
Mas ela aponta outra dificuldade, o número de professores readaptados, são nove mil em todo o Estado.
No que diz respeito à questão dos livros, ela menciona: “Realmente, é verdade”. Magali Delfino explica que os livros são encaminhados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que faz o envio dos livros com base nos números do censo anterior. A reserva técnica é de 10% e não dá para cobrir. Ela diz que se trata de uma realidade nacional. Os livros são destinados a alunos do ensino fundamental e médio. Ela afirma que a Dired continua buscando resolver a situação dos livros. “Nós já remanejamos vários livros”, diz.
Com relação ao atraso, Magali menciona que é o próprio FNDE que encaminha os livros, diretamente, para as escolas. Para a Dired seguem apenas os livros da reserva técnica. Ela afirma que se trata de um problema nacional.
Já no que diz respeito à questão da insegurança, a responsável pela Dired afirma: “Na realidade, o problema da segurança é nacional”. “Na maioria das escolas nós temos vigias”, acrescenta Magali Delfino. “Nós temos tentado muita coisa, mas é realidade”, complementa.
Ela também se refere aos problemas apontados na educação que poderiam ocasionar mais prejuízos aos estudantes do que a própria greve. “Na realidade é muito fácil em um momento desses postar dificuldades, e a questão é falar com quem tem autoridade, buscar informações junto à Secretaria de Educação”, diz a diretora da Dired.
Segundo ela, os problemas são pontuais. “O problema mais grave é a falta de alunos em sala de aula no turno noturno”, menciona Magali Delfino, acrescentando que após a greve os estudantes não retornaram para as escolas.

Fonte: Gazeta do Oeste

Especialização visa preparar aluno para ensino da música

A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) ainda está com inscrições abertas para o curso de especialização em Metodologia do Ensino da Música, oferecida pelo Departamento de Arte (DART), da Faculdade de Letras e Artes (FALA). A especialização é voltada não só para quem tem formação superior em música como também para aqueles que são formados em qualquer outra licenciatura e que tenham intenção de trabalhar com instrumentos musicais em sala de aula.
 
O curso tem duração de oito meses, mais o prazo para inscrição do trabalho de conclusão. São 44 vagas ofertadas. “Não é necessário que se tenha conhecimento em música para se inscrever. O processo de seleção é somente a entrevista e a análise do currículo”, destacou o professor Henderson Rodrigues, do conservatório de música da Uern.
 
Segundo Henderson Rodrigues, as datas de início do curso de especialização já estavam definidas, mas tiveram que ser adiadas devido à greve. As novas datas serão divulgadas após o término da greve. O curso contará com participação de professores doutores de várias instituições de Ensino do Brasil, como UFPE, UFPB, UFRN e UFRGS.
 
O professor explicou ainda que, de acordo com a lei 11.769, que entra em vigor em agosto, torna-se obrigatório o conteúdo de música na grade curricular das escolas de ensino médio e fundamental. “Nós acreditamos que será uma demanda grande de oportunidades, já que as escolas terão que contratar esses professores, e foi a partir dessa preocupação que o departamento de música criou o curso de especialização”, destacou Henderson Rodrigues.
 
O valor da inscrição é de R$ 40,00, e a mensalidade custa R$ 175,00.

Fonte: Gazeta do Oeste

Gramática fácil, extremamente fácil


Área das mais complexas, a gramática sempre foi um campo em que poucos se aventuraram. Mas o professor Sílvio Augusto não teve receio: escolheu a gramática como área de atuação e, acima de tudo, quis compartilhar essa escolha da maneira mais simples. Como ele mesmo diz, de forma fácil, extremamente fácil. “Há alguns anos, muitos alunos me pediam para que escrevesse algo que se aproximasse de meu estilo de aula, que busca facilitar ao máximo a aprendizagem, com exemplos interessantes, envolventes, com músicas e – principalmente – numa linguagem descomplicada e interativa. Pensei em fazer um manual de gramática, algo simples, sem muita pretensão; mas fui pesquisando, escrevendo, escrevendo e o número de páginas aumentando. Quando vi, estava com mais de 450 páginas. A partir disso, resolvi ousar um pouco mais e passamos das 500 páginas. São 22 capítulos, em torno de 1.000 questões gabaritadas, textos atuais, exemplos de fácil assimilação, poesia na abertura de cada capítulo/unidade e uma novidade especial: ao final dessas unidades há um questionário de verificação de rendimento com interação pelo Twitter @Silvio_prof e pelo e-mail gramaticasilvio@gmail.com disponíveis aos leitores e estudiosos, cuja referência seja a gramática”, diz o professor, que lançará a Gramática Extremamente Fácil, hoje, 31, às 18h, na Livraria Siciliano, do Mossoró West Shopping. 
Segundo ele, o ensino de gramática no Brasil sofre a carência de um trabalho mais direcionado para a facilitação de seu aprendizado, acessibilidade ao conhecimento mais profundo, atualizado, ampliado, com estratégias didático-pedagógicas. “Acredito, sinceramente, em melhorias – pois sempre apostarei na educação como a melhor referência de um país e de um povo”, destaca, frisando que, para os estudantes as dificuldades mais comuns são a falta de concentração ao estudo do texto e da literatura nas provas escolares. “Isso pode ter levado muita gente a desprezar o valor do conhecimento gramatical. A partir dessa premissa, vejo como urgente a necessidade de resgatar o interesse pela gramática de nosso idioma, haja vista que ela é a base, a estrutura de toda língua. Não se vive sem regra, sem norma, sem fundamentação e isso é papel da gramática. Diante disso, destaco também como dificuldades mais comuns a insegurança no estudo da regência e da concordância verbal/nominal, até pela invasão de permissividade linguística tão comum na atualidade”, explica.
Matéria que costuma “pegar” muita gente, principalmente em concursos públicos, a gramática precisa de estudo e, acima de tudo, atenção. “Muita gente tem dedicado estudo e atenção a outras disciplinas e matérias, esquecendo-se da própria língua, julgando – inclusive – dominá-la. Recebo muitos convites para elaborar interposições de recurso na tentativa de recorreção de provas e redações devido ao mau desempenho dos candidatos que prestam concursos públicos. É claro que essa atenção deve ser, no mínimo, dividida a fim de reduzir o índice de reprovação por desconhecimento do conteúdo gramatical. O estudo sistemático com uma boa gramática pode tornar esse obstáculo superável”, diz.
O professor dá algumas dicas para quem se submete a concursos públicos. “Vale a pena dedicar um tempo a uma gramática realmente boa, que fale a sua linguagem, descomplicada, com muitos exercícios com gabarito e questões de várias bancas elaboradoras, interativa a ponto de o leitor até conversar com o autor após cada sessão de estudos, que tenha até poesia para dar leveza à rotina pesada de todo concurseiro, com muitas observações sobre cada afirmação exposta de modo simples, mas profundo e consistente”, orienta. 
REFORMA ORTOGRÁFICA – Para o professor, o idioma é um ser vivo: nasce, vive, morre, ressurge... e assim se renova. “A nova ortografia, penso, deve ser vista como mais uma fase a ser vivida pela Língua Portuguesa. Apropriando-me das palavras de Caetano Veloso, quando diz: “A mente apavora o que ainda não é mesmo velho”, creio que devemos encarar o “novo” sabendo que ele assusta a princípio, mas o tempo se encarrega de nos adaptar a tudo que precisa mudar. Nós vamos ficar acostumados a conviver com mudanças em tudo, principalmente nesse que é o código de comunicação de todos os brasileiros. Não vejo confusão; enxergo necessidade de adaptação”, fala, acrescentando que, junto a isso, o País cresce em termos de bibliotecas e leitores. “Temos aproximadamente 13 mil bibliotecas em nosso país, somos agraciados por bienais de livros em várias capitais, contamos com um número expressivo de escritores que trabalham na contramão do número de leitores; por isso, não podemos desanimar. Cada um de nós pode dar a sua contribuição, incentivando a leitura nas escolas, em casa e em todo lugar. Talvez essa realidade se deva ao fato de ainda investirmos mais em cosméticos, celulares, moda ou entretenimento do que em cultura e bons livros. Isso pode mudar aos poucos, mas precisa começar ‘ontem’”, brinca.
 
O HOMEM QUE QUER DESCOMPLICAR A GRAMÁTICA - O professor natalense Sílvio Augusto do Nascimento é o primeiro potiguar a lançar uma gramática da língua portuguesa. Intitulada Gramática Extremamente Fácil, a obra é voltada para concursos públicos e vestibulares.
Ele revela que é um apaixonado pela área. “Sou um apaixonado pela Língua Portuguesa há muito tempo. E procuro estudá-la com prazer desde meus tenros anos de escola básica [ainda no grupo escolar]. Gosto de entrevistas inteligentes em talk-shows que me permitam crescer intelectualmente e que me sirvam de referência na vida. Não escuto qualquer coisa, mas presto atenção a quase tudo; sou fã da música que tem letra de verdade – aquela que tem poesia. Leio livros de autores regionais, nacionais, internacionais e penso que há muita gente boa desconhecida que merece nossa atenção. No que tange à gramática, sou discípulo de Rocha Lima, Celso Pedro Luft, Adriano da Gama Kury, Houaiss, Antenor Nascentes... e faço uso de pesquisas em autores que se caracterizam por saírem da mesmice ou do simplesmente óbvio, e que têm a novidade que motiva a pesquisa”, frisa.
Formado em Letras, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e pós-graduado em Marketing e Gestão e Organização Escolar, Sílvio Nascimento é professor de Língua Portuguesa, Ética e Legislação.
Sílvio Nascimento tem outros títulos lançados, como o livro Adâmico, uma composição poética de prosa e poesia publicado em 2001. Ele também lançou o Gramática Popular Brasileira (GPB), em 2005, com paródias musicais para a fixação gramatical, e o Manual mais Prático da Nova Ortografia, em 2009, com o apoio e patrocínio do Sesc/RN. Devido estar ligado à área jurídica, o professor anuncia o lançamento da obra Técnicas de Elaboração da Redação Oficial e Forense.
A Gramática Extremamente Fácil é dividida em 22 capítulos, com poemas e linguagem interativa. Nomes como Vinicius de Morais, Cecília Meireles, Pablo Neruda, Florbela Espanca, Mário Quintana, Manoel de Barros, Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Drummond ajudam a compreender a densidade da linguagem e a descomplicar aquilo que, aparentemente, nos parece complicado demais... 

Fonte: Gazeta do Oeste